[Magia sem Lágrimas]: Thelema vs Cultura Woke
- Fernando Liguori
- 18 de mar.
- 5 min de leitura

7 DE MARÇO DE 2025 E.V.
Cara Soror,
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Obrigado pela mensagem e apreciação de meu trabalho. Vou chamar essa resposta de Thelema vs Cultura Woke: uma contradição filosófica, mágica e iniciática. Suas inquietações chegam em um momento onde exploro esse assunto em um texto para a nova edição de A Lança & o Graal que se chamará De todo não temais, referência a Liber AL vel Legis III:17. Você chegou a ler a atualização de meu diário virtual sobre Os Perigos do Feminismo em Thelema? Se não, sugiro a leitura para completar o que aqui vou discorrer.
A infiltração da cultura woke no coração da Ordo Templi Orientis e da comunidade thelêmica internacional não representa apenas uma distorção administrativa ou uma mera atualização ética. Trata-se, na verdade, de uma contradição ontológica em relação ao próprio fundamento filosófico e metafísico de Thelema. Ao abraçar ideologias de matriz igualitária, coletivista e vitimista, a atual administração da O.T.O. e grande parte da comunidade thelêmica moderna abandonaram os princípios fundamentais que Aleister Crowley legou à Ordem e à A∴A∴: a supremacia da Vontade Individual e a autogovernança divina do Iniciado.
O Liber AL vel Legis, pedra angular de Thelema, é absolutamente claro: Tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade (I:42). Essa injunção fundamental destrói a própria ideia de uma moral externa imposta, seja ela religiosa, estatal ou ideológica. A Verdadeira Vontade é uma função individual do contato direto entre o Iniciado e seu Santo Anjo Guardião – qualquer tentativa de regular ou balizar essa Vontade a partir de dogmas coletivistas é uma traição direta ao espírito de Thelema. Como enfatiza Crowley no Magick Without Tears, toda moralidade herdada é uma forma de servidão espiritual. E, portanto, qualquer doutrina progressista que instrua o thelemita a pensar ou agir de acordo com pautas sociais é, por definição, um retrocesso para a moralidade do rebanho.
No II° da O.T.O., o candidato jura seguir a Declaração de Direitos do Homem, da qual Liber LXXVII vel OZ deriva, que postula o direito absoluto do indivíduo de pensar, agir, criar e destruir conforme sua própria Vontade. Não há espaço, em nenhum momento do Liber OZ, para a noção de responsabilidade social no sentido woke: O homem tem o direito de matar aqueles que quereriam contrariar estes direitos. Em Thelema, o homem é soberano dentro de sua própria esfera de influência. Restrições morais sobre pensamento, fala, comportamento e expressão são chamadas pelo próprio O Livro da Lei de a palavra de pecado (I:41).
A cultura woke insiste em obliterar qualquer distinção entre masculino e feminino, chegando ao extremo de desconstruir a própria biologia sob a égide da ideologia de gênero. Essa visão é absolutamente incompatível com o sistema mágico sexual desenvolvido por Crowley para a O.T.O., que é fálico e androcêntrico por natureza. Como se lê em Liber Agape, o homem é o guardião da Vida de Deus, e a mulher é um veículo temporário – o Graal que recebe o sêmen solar. Essa estrutura binária e hierárquica é o cerne da magia sexual thelêmica, sendo o PHALLUS o emblema da Verdadeira Vontade criadora, e a YONI o receptáculo lunar, a matéria-prima passiva a ser fecundada.
Tentar reescrever esse simbolismo em termos de corpos com pênis e corpos com vulvas é não apenas ridículo, mas uma profanidade contra os próprios mistérios da tradição iniciática thelêmica. Como afirma Crowley em Magick in Theory and Practice, o Phallus é a chave de toda verdadeira iniciação. Ele é o cetro solar, a vara axial que reconecta Céu e Terra, Espírito e Matéria. Qualquer tentativa de neutralizar ou dissolver esse simbolismo através da linguagem inclusiva ou da ideologia de gênero é deturpar a própria espinha dorsal da teurgia sexual de Thelema.
Thelema não é uma doutrina igualitária. Crowley descreve abertamente sua filosofia como aristocrática e meritocrática, reservada àqueles que conquistaram sua Verdadeira Vontade através de disciplina e autodomínio. Em Liber AL vel Legis, o próprio Hórus declara: Desprezai todos os covardes, soldados profissionais que não ousam lutar (III:57). E Vós sois contra o povo, Ó meus escolhidos! (II:25); Eu vos darei uma máquina de guerra. Com ela vós golpeareis os povos; e nenhum ficará de pé diante de vós. (III:7-8) Essa é a mesma crítica que Friedrich Nietzsche faz à moralidade de rebanho: os fracos, incapazes de criar valores próprios, inventam ideologias igualitárias para nivelar todos por baixo. Ao adotar a cultura woke, a O.T.O. atual converte-se em uma paródia decadente daquilo que deveria ser – uma escola de aristocracia espiritual, forjadora de Übermenschen mágicos.
Babalon não é uma força ou arquétipo feminista. Babalon é o Graal e a Prostituta Sagrada porque ela aceita ser penetrada pela Lança da Vontade Solar, servindo como matriz receptiva da Palavra Mágica. Feministas thelemita-z que dizem não sou sua Babalon apenas revelam sua ignorância da função litúrgica da Mulher Escarlate. Como bem aponta o Liber Agape: A mulher é um santuário, mas não é o Deus. Essa distinção não é um capricho machista; é uma estrutura arquetípica e mística, fundada na alquimia sexual e nos mistérios tântricos do Lingam e da Yoni.
A tentativa woke de transformar Babalon numa bandeira feminista é uma distorção grotesca. Babalon não é uma vítima do patriarcado; ela é a Rainha do Céu e da Terra porque aceita e deseja a submissão ritualística à Vontade Solar. A inversão woke desse mistério sagrado transforma Babalon em uma caricatura, retirando seu poder místico e convertendo-a em uma porta-voz de militâncias rasteiras.
A cultura woke, ao tentar enxertar no corpo de Thelema suas ideias de justiça social, equidade e linguagem controlada, transforma a religião da Vontade em um culto à vítima – exatamente o oposto da aristocracia espiritual de Crowley. Thelema é um caminho de criação de valores próprios, não de submissão a normas externas. Em Liber Aleph, Crowley deixa claro: Para ter Liberdade, o homem deve criar sua própria lei. Isso significa que nenhuma ideologia coletiva pode se sobrepor à Verdadeira Vontade individual.
Thelema não é compatível com a cultura woke porque Thelema é a antítese da conformidade moral. Crowley não escreveu uma doutrina de direitos humanos ou um código de conduta progressista. Ele escreveu uma Lei de Liberdade Total, que exige do Iniciado a coragem de pensar e agir sem desculpas ou concessões. A atual administração da O.T.O., ao tentar adaptar Thelema aos valores de justiça social, não apenas trai Crowley, mas transforma a Ordem numa casca vazia – uma simulação grotesca e inofensiva do que deveria ser uma escola de aristocratas da Vontade.
Como escreve Crowley em Liber II: A Natureza é cruel, implacável e imoral; tudo isso é verdade. E a Natureza é correta. Thelema é a afirmação dessa Natureza, não a tentativa de reformá-la segundo os caprichos ideológicos de uma geração fragilizada. A verdadeira missão da O.T.O. é criar Gênios e Bestas 666, não ativistas de Twitter-X.
Que os thelemitas despertem para essa verdade — ou pereçam na mediocridade autoimposta da moral woke. O Novo Aeon pertence aos fortes.
Desta resposta irei produzir um manifesto!
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fr. AHA-ON, 777 ∵
Comments