[Magia sem Lágrimas]: O Sagrado Anjo Guardião #1
- Fernando Liguori
- 18 de mar.
- 8 min de leitura

18 DE MARÇO DE 2025 E.V. – O Sagrado Anjo Guardião
Anno Vviii
Sol in 28° Peixes, Luna in 17° Escorpião
Dies Martis
18 de Março de 2025 e.v.
Care Frater,
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Obrigado pela sua carta e palavras gentis. Muito me alegra ver Probacionistas como você, interessados verdadeiramente, focados nos estudos e comprometidos com a Verdadeira Vontade. Esse tema sobre o qual solicita informações, o Sagrado Anjo Guardião, tem sido o Norte de minha carreira mágica. Tenho me debruçado sobre a matéria há pelo menos vinte e cinco anos, e disso resultou minha tese de Adeptus Exemptus 7°=4, dividida em duas partes, sendo o livro Corrente 93 (Parte 1) e o livro Daemonium: Curso de Filosofia Oculta (Parte 2). O eixo central de minha tese é o Conhecimento e Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, experiência e conhecimento que vêm ganhando revisões e atualizações em meus escritos, na medida em que os mistérios me são permitidos conhecer.
Aqui, sinto muito, não poderia fazer melhor do que já fiz nestes dois livros. Recentemente, fiz mais uma atualização deste conhecimento em um texto chamado A Função do Daimōn Pessoal na Quimbanda. Abaixo deixo um uma pequena resenha para o material que já produzi sobre o assunto. Em seguida algumas considerações especiais.
O Sagrado Anjo Guardião no livro Corrente93
Desde o início se estabelece que a busca pelo Sagrado Anjo Guardião é o coração do caminho iniciático em Thelema. O livro resgata a importância central desse conceito na tradição oculta ocidental, destacando que a prática foi profundamente influenciada pelo Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o Mago, uma obra que descreve um longo e árduo processo de purificação e evocação do Sagrado Anjo Guardião. Crowley adotou esse princípio como o objetivo maior da iniciação em sua ordem, a A∴A∴, tornando a comunicação com o S.A.G. o verdadeiro propósito da Grande Obra.
No entanto, o livro vai além das interpretações tradicionais e apresenta uma visão diferenciada sobre a identidade do Sagrado Anjo Guardião. Ele questiona a concepção comum que associa essa entidade ao Eu Superior, uma noção popularizada por diversas escolas esotéricas e mesmo por discípulos de Crowley. Para o autor, essa é uma interpretação errônea, pois Crowley, em seus escritos tardios, corrigiu essa ideia e enfatizou que o Sagrado Anjo Guardião é uma entidade objetiva, uma inteligência real e independente da psique do magista. O livro ainda destaca que, no sistema da A∴A∴, a jornada rumo ao contato com o S.A.G. passa por três grandes estágios iniciáticos:
O Homem da Terra, em que o candidato inicia sua busca e experimenta vislumbres da presença do Anjo.
O Amante, onde há um aprofundamento na relação, marcada por práticas rigorosas de invocação e desenvolvimento espiritual.
O Eremita, que simboliza a ascensão final e a integração plena com essa entidade.
Outro aspecto essencial abordado na obra é a relação do S.A.G. com o conceito de daimōn na tradição neoplatônica. O livro explora a conexão entre esses dois termos, traçando paralelos com a teurgia e a filosofia hermética. Ele aponta que o Sagrado Anjo Guardião não é apenas um guia espiritual, mas a própria chave para a compreensão da Verdadeira Vontade – um conceito central em Thelema que define a missão única e intransferível de cada indivíduo.
O livro também analisa o papel do Liber Samekh, um ritual desenvolvido por Crowley para facilitar a invocação do S.A.G. Este ritual é baseado em textos mágicos greco-egípcios e representa uma adaptação moderna dos métodos descritos no sistema de Abramelin. É explicado que o Liber Samekh tem a função de alinhar a consciência do magista com seu Sagrado Anjo Guardião, tornando possível um contato mais direto e intenso.
Em suma, Corrente 93 apresenta um estudo sólido sobre o Sagrado Anjo Guardião, destacando sua importância na tradição thelêmica e esclarecendo equívocos comuns. Liguori demonstra que essa entidade não é uma simples abstração psicológica, mas uma força espiritual real e fundamental para aqueles que buscam a Grande Obra.
O Sagrado Anjo Guardião no livro Em Nome da Besta
O livro traça um panorama histórico e conceitual sobre o Sagrado Anjo Guardião, começando pela influência da magia de Abramelin, o Mago, onde se encontra a primeira menção estruturada sobre esse contato espiritual. A obra discute como Aleister Crowley resgatou e reformulou esse conceito dentro do sistema de Thelema, tornando a busca pelo S.A.G. a meta suprema da iniciação thelêmica.
Um dos pontos centrais abordados no livro é a mudança de perspectiva de Crowley ao longo de sua vida, esclarecendo que, em seus primeiros escritos, Crowley interpretava o Sagrado Anjo Guardião como uma representação do Eu Superior, um conceito presente na Aurora Dourada e na Teosofia. No entanto, nos anos finais de sua vida, ele passou a compreender que o S.A.G. não era uma abstração psicológica, mas sim uma entidade objetiva e independente da consciência do magista. O livro reforça essa conclusão citando passagens do Magick Without Tears, onde Crowley rejeita a noção do S.A.G. como um mero aspecto interno da psique e enfatiza sua natureza autônoma e inteligível.
A obra também aprofunda o papel do Sagrado Anjo Guardião dentro do sistema iniciático da A∴A∴, detalhando como a jornada mágica é estruturada para levar o estudante a essa experiência. Argumenta que a relação com o S.A.G. não é um mero exercício intelectual ou meditativo, mas um processo profundo de transformação interna, exigindo dedicação e rigor para que o magista possa receber as instruções diretas dessa entidade.
Outro aspecto do livro é a explicação sobre o Liber Samekh, um dos rituais mais importantes para a invocação do S.A.G. Explora como Crowley adaptou rituais mágicos da tradição greco-egípcia para criar esse método, tornando-o um dos caminhos mais eficazes para alcançar o Conhecimento e Conversação. O livro também menciona práticas meditativas e simbólicas utilizadas ao longo da história para esse mesmo fim.
O Sagrado Anjo Guardião no livro Daemonium: Curso de Filosofia Oculta
O livro inicia desfazendo equívocos comuns acerca do Sagrado Anjo Guardião, rebatendo a interpretação moderna que o reduz a uma mera manifestação do Eu Superior. Pelo contrário, argumenta que o Sagrado Anjo Guardião é uma entidade objetiva, um espírito assistente que tem origem em uma longa tradição mágica que remonta à Antiguidade. Desde as referências nos Papiros Mágicos Gregos ao paredros – um espírito assistente que guiava o mago –, até o conceito do daimōn pessoal em Platão e na teurgia neoplatônica, o livro mostra que esta entidade foi reverenciada em diversas culturas.
Na tradição mágica ocidental, o Sagrado Anjo Guardião tornou-se central nos ensinamentos do Livro da Magia Sagrada de Abramelin, no qual o mago deve passar por um processo rigoroso de purificação espiritual para alcançar o Conhecimento e Conversação com essa entidade. O livro também destaca que esse contato é essencial para o verdadeiro exercício da magia, pois o espírito assistente não apenas confere sabedoria, mas também concede poderes ao mago.
O livro explora a relação entre este conceito e a visão cristã do Anjo da Guarda, mostrando como a Igreja reinterpretou e simplificou um fenômeno que originalmente tinha implicações filosóficas e místicas muito mais profundas. O livro traça paralelos entre o daimōn de Sócrates e a busca pelo conhecimento divino na filosofia antiga, argumentando que o primeiro ato da inquisição filosófica ocidental foi guiado por um contato com um espírito assistente.
Além disso, há uma análise detalhada sobre o papel do Sagrado Anjo Guardião no desenvolvimento da personalidade mágica do mago. A relação com essa entidade transcende um mero contato esporádico; trata-se de um vínculo de profunda amizade e orientação espiritual. Essa conexão refina a Alma Intelectual, permitindo ao mago acessar conhecimentos ocultos e manifestar sua Verdadeira Vontade.
A obra ainda menciona práticas específicas e rituais históricos utilizados para obter o contato com o Sagrado Anjo Guardião, incluindo encantamentos antigos e instruções baseadas na magia de Abramelin. Um aspecto interessante explorado no livro é a associação entre essa entidade e o conceito de pacto com espíritos, que foi deturpado ao longo da história, tornando-se o mito do pacto com o diabo popularizado nas tradições cristãs.
Em suma, Daemonium: Curso de Filosofia Oculta apresenta uma análise minuciosa desse tema, mostrando que o Sagrado Anjo Guardião não é uma invenção moderna, mas um elemento fundamental da tradição esotérica desde os tempos antigos. Seu estudo oferece não apenas conhecimento teórico, mas também chaves práticas para aqueles que desejam explorar essa relação espiritual em sua própria jornada mágica.

O texto inicia esclarecendo que, embora não haja referência direta ao daimōn pessoal na estrutura tradicional da Quimbanda, este conhecimento pode ser assimilado à prática da feitiçaria ctoniana. Como ressaltado no ensaio, a Quimbanda possui um caráter agregador, aproveitando conhecimentos externos, como os da alquimia, astrologia e magia cerimonial, para potencializar suas práticas. Nesse sentido, a introdução do conceito do daimōn pessoal melhora a compreensão da ascensão espiritual na Quimbanda, auxiliando na recepção das virtudes do Exu tutelar e no contato com o mundo espiritual.
O texto enfatiza que a jornada do autor com o daimōn pessoal é fruto de anos de estudo e prática, já abordados nos volumes anteriores de Daemonium. A experiência adquirida nesse percurso lhe permitiu transpor esse conhecimento para a Quimbanda, demonstrando que a comunicação e o conhecimento do daimōn pessoal são indispensáveis para o processo de deificação da alma dentro da tradição ctoniana.
A análise apresentada no ensaio parte da perspectiva de Jâmblico, que em De Mysteriis descreve o daimōn pessoal como um guia espiritual que acompanha a alma desde antes de sua corporificação. Esse daimōn, segundo o filósofo neoplatônico, regula o destino do indivíduo e orienta suas ações até que, através da teurgia, a alma possa estabelecer um deus como seu supervisor e líder. Essa concepção é explorada no texto dentro do contexto hermético, onde o daimōn pessoal está vinculado às esferas planetárias e aos deuses celestiais, influenciando tanto as virtudes quanto os desafios que a alma enfrentará em sua jornada terrena.
O ensaio também destaca a relação do daimōn pessoal com a noção de destino (heimarmenē) na Hermética. O texto esclarece que, na tradição hermética e teúrgica, o destino de uma alma é determinado pelos deuses astrais e executado pelos daimōnes. O daimōn pessoal, portanto, age como o intermediário entre o indivíduo e as forças cósmicas, permitindo que, por meio de práticas teúrgicas, o magista possa superar as limitações impostas pelo destino e ascender espiritualmente.
Dentro da Quimbanda, essa compreensão do daimōn pessoal se reflete na relação do kimbanda com seu Exu tutelar. Ao receber o fundamento de seu Exu na iniciação, o daimōn pessoal do kimbanda passa a ser regido por essa entidade, estabelecendo um pacto espiritual que permite a transmissão da potência do Exu à alma do praticante. Dessa forma, a Quimbanda se torna um caminho de deificação catabática, onde a iniciação conduz o adepto aos domínios do Chefe Império Maioral e lhe permite trilhar um caminho espiritual que culminará na própria transformação do kimbanda em um Exu dentro da sua linhagem de trabalho.
O texto conclui ressaltando que, ainda que o conceito do daimōn pessoal não seja uma construção originária da Quimbanda, seu estudo e aplicação enriquecem a tradição, aprimorando tanto o entendimento da ascensão espiritual dentro da feitiçaria ctoniana quanto a especialização do kimbanda em diversas áreas de magia, como amor, prosperidade e saúde.
Em suma, A Função do Daimōn Pessoal na Quimbanda representa uma síntese entre o conhecimento teúrgico e a tradição da Quimbanda, oferecendo uma chave poderosa para a compreensão da jornada espiritual e do contato com as potências do mundo invisível. Sua leitura é essencial para qualquer praticante que deseja aprofundar-se nos mistérios da feitiçaria ctoniana e na busca pela deificação da alma.
Esse foi um resumo de tudo o que produzi sobre o tema. Nesse resumo não quis esmiuçar detalhes, mas apenas um panorama geral do tema do Sagrado Anjo Guardião neste material.
Então você pergunta se: i. O Exu tutelar é o Sagrado Anjo Guardião; ii. afinal, é um espírito ou o Eu Superior?
Eu vou atualizar este conhecimento a partir de agora. Segue na segunda parte.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fr. AHA-ON, 777 ∵
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