
MAGIA SEM LÁGRIMAS
OU LIGUORI ENSINA TUDO
Espaço dedicado a cartas respostas, instruções e orientações a estudantes diversos.
Houve uma virgem que andava a esmo no trigal, suspirando; então nasceu algo novo, um narciso, e nele ela esqueceu seu suspiro e sua solidão. No mesmo instante Hades se abateu sobre ela e possuiu-a e a levou. - - Liber LXV vel Cordis Cincti Serpente, Cap. I, Vs. 47-8.

Magia sem Lágrimas
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Amor é a lei, amor sob vontade.
A palavra da lei é
THELEMA
7 DE MARÇO DE 2025 E.V. – eclipses lunares na magia
Care Frater,
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Desde os primórdios da magia, o homem compreendeu que as forças mágicas do Cosmos estão a sua disposição para uso, para manipulação ou administração. Para tornar esse conhecimento possível, o homem desenvolveu sistemas e tecnologias mágicas tanto para compreender quanto para manipular.
Sob uma perspectiva mágica e animista, a astrologia não é apenas um sistema simbólico ou psicológico de interpretação de arquétipos – como muitas vezes é reduzida no contexto esotérico contemporâneo. Em sua raiz ancestral, a astrologia é a arte de ler a linguagem viva do Cosmos, entendendo que os astros são entidades praeter-humanas, dotadas de consciência, vontade e poder. Sob a perspectiva da Quimbanda, todos os astros são espíritos ancestrais.
Nessa cosmovisão mágica, encantada, cada planeta é um espírito ou divindade, cada signo é um campo vivo de influência anímica, e cada aspecto astrológico é um diálogo real entre potências espirituais, que afetam tanto o mundo material quanto o ochēma-pneuma e a alma do mago. A astrologia é, portanto, um sistema oracular e operativo, pois não só revela os fluxos de poder em andamento, como permite que o magista se conecte a esses fluxos, influencie-os e os canalize para fins específicos.
Astros e estrelas, dentro dessa visão animista, são corpos vivos – cada qual pulsando uma qualidade espiritual única. Marte não é só um símbolo de guerra: ele é Ares, o espírito da guerra encarnado no céu, cuja presença pode ser invocada em rituais de combate, corte, separação ou libido. Este espírito está presente sempre que existe uma contenda, de qualquer natureza. Guerrear é cultuar este espírito. Vênus é Afrodite, cuja força magnética pode ser canalizada para sedução, harmonização ou encantamento amoroso. Ela está sempre presente na paixão, no enlace de união. Amar, se unir em gozo e paixão, é cultuar esse espírito.
Essa astrologia mágica e animista não é determinista – os astros não obrigam, mas sim sussurram, atraem e inclinam. O mago, como sacerdote e feiticeiro celeste, aprende a conversar diretamente com os astros, oferecendo-lhes sacrifícios, encantamentos, preces ou pactos. Um ritual astrológico eficaz é uma troca de forças mágicasa e inteligência entre o microcosmo do magista e o macrocosmo estelar. A astrologia, neste sentido, será utilizada como uma chave de acesso aos espíritos estelares ou astrais do Cosmos, um portal para conexão com eles. Trata-se de uma ferramenta ou tecnologia mágica.
O mago pode, por exemplo, selecionar momentos específicos para realizar rituais, talismãs e encantamentos, escolhendo janelas temporais em que os astros estejam alinhados para infundir na operação mágica a força total de suas virtudes. Um talismã de Vênus para amor é consagrado quando Vênus está forte (em Touro ou Libra, angular e não aflita). Rituais planetários podem ser realizados em dias e horas específicas, utilizando a astrologia não só como guia temporal, mas como portal direto para invocar a força viva do planeta. Nas tradições modernas derivadas diretamente do renascer da magia no fim do Séc. XIX, o mago assume a forma divina do planeta, integrando sua psique à essência espiritual daquela esfera.
A chamada assunção de formas divinas, como ensinada em correntes hermeticistas tardias e ordens derivadas da Ordem Hermética da Aurora Dourada, representa uma distorção da fórmula mágica original das tradições mágicas animistas, oraculares e xamânicas. Essa técnica foi concebida como uma solução artificial, uma tentativa de simular externamente o que, nas tradições de possessão autêntica, ocorre como um rapto da alma pelo poder divino ou espiritual convocado. Ao invés de buscar a invasão direta da consciência pelo espírito, o magista ocidental moderno limitou-se a um exercício teatral de imaginação criativa, restringindo a operação mágica a uma construção mental subjetiva e simbólica.
No entanto, em culturas religiosas afro-diaspóricas no contexto das Américas, a verdadeira invocação opera por meio da possessão real – o magista não assume a forma da entidade praeter-humana, mas é tomado por ela, rasgado em sua identidade ordinária para tornar-se veículo puro da força convocada. Esta é a verdadeira fórmula da cabalá crioula: a teurgia da carne em transe, onde o corpo é o altar vivo e o espírito invocado é o oficiante através do mago. A possessão divina, diferente da assunção de formas divinas, é o ato visceral de permitir que o corpo e a fala sejam sequestrados pelo espírito, Exu ou qualquer ancestral convocado. A tentativa de esterilizar esse processo, substituindo-o por uma visualização ou encenação mental, não é assunção real, mas obstrução da corrente mágica verdadeira.
O objetivo da Ordo Serpente & Estrela é eliminar esse tipo de anacronismo magístico. A assunção de formas divinas é uma técnica baseada na mentalização e no controle voluntário da mente imaginativa, refletindo uma perspectiva mágica altamente intelectualizada, onde a mente do magista é soberana e a divindade é uma extensão simbólica da própria psique. Por isso, ela é muitas vezes criticada como um método artificial e teatral, distante da visceralidade oracular e mágica presente nas tradições animistas.
A possessão divina, por outro lado, é uma prática profundamente enraizada na corporificação dos poderes de um espírito ou divindade. É, portanto, uma técnica mágica estética, onde o poder não é apenas pensado, mas vivido corporalmente. Aqui, o corpo é altar, tambor, ferramenta e templo. O espírito convocado não é uma abstração ou arquétipo simbólico, mas uma presença ancestral concreta, com personalidade, gostos, voz e cheiro.
Essa diferença é também política e espiritual: enquanto o magista ocidental moderno busca dominar o Cosmos através de sua mente analítica, o mago da nova síntese da magia entrega-se e é cavalgado – uma submissão ritual que reconhece a precedência e a potência da força espiritual sobre o ego do operador. Isso revela a diferença entre sistemas mágicos nascido em salões burgueses esotéricos e sistemas forjados na resistência de povos escravizados, cuja magia não é apenas especulativa, mas ferramenta de sobrevivência e poder direto. A nova síntese da magia consiste em unir os métodos mágicos europeus a feitiçaria fetichista afro-diaspórica, i.e. o trabalho do obeah e wanga (Liber AL vel Legis I:37).
Voltando a astrologia, ela pode ser a base para a criação de talismãs e amuletos astrológicos, onde o mago imanta um objeto com a força espiritual de um planeta. Mapear a carta natal de alguém, por exemplo, é um ato de divinação mágica, revelando não apenas tendências psicológicas, mas espíritos tutelares, maldições hereditárias, pactos astrais e desequilíbrios diversos. A leitura astrológica é uma forma de necromancia astral, trazendo à tona as vozes ancestrais e espirituais dos astros sobre alma.
Um eclipse lunar ocorre quando a Terra se posiciona entre o Sol e a Lua, projetando sua sombra sobre a Lua Cheia, que pode ficar escurecida (eclipse total) ou parcialmente oculta (eclipse parcial). Do ponto de vista mágico e animista, um eclipse lunar é uma interrupção violenta do fluxo normal entre o Sol e a Lua, abrindo portais astrais de manifestação para ingresso e egresso de entidades praeter-humanas, bem como a potencialização de rituais e feitiços, saturando magicamente horas e locais de poder. Isso tem um impacto profundo na alma das pessoas, a depender da localização geográfica.
A Lua é tradicionalmente associada ao Submundo, aos mortos, à memória coletiva e ao ochēma-pneuma. Quando a sombra da Terra cobre a Lua, temos um apagamento momentâneo da luz lunar, o que abre um hiato no tecido astral. Durante o eclipse lunar, a Lua é engolida e devolvida – uma porta se abre entre os vivos e os mortos. Espíritos ancestrais e forças de encantamento necromântico são mais acessíveis. Em outras palavras, fica fácil acessar os mortos e o Submundo. No contexto da Quimbanda, uma arte de feitiçaria noturna, sub-lunar, trata-se de um momento ideal para trabalhos mágicos diversos.
A força de um eclipse lunar pode ser usada para:
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Banimento e quebra de maldições: A força caótica do eclipse é propícia para rituais que visam cortar laços, quebrar encantos, exorcizar e remover influências espirituais negativas.
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Transformação: Assim como a Lua é apagada e renasce, o eclipse é usado para rituais de morte e renascimento mágico – encerramento de ciclos e preparação para renascimentos iniciáticos.
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Amplificação de malefícios: Tradicionalmente, eclipses são momentos temidos porque afetam o ochēma-pneuma de todos os seres vivos, tornando-os vulneráveis. Na feitiçaria da Quimbanda o eclipse pode ser utilizado como uma janela para lançar maldições e pragas com potência dobrada.
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Banhos de descarrego em águas correntes ou de mar.
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Queima de oferendas para ancestrais e Exus.
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Construção de talismãs de proteção ancestral.
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Meditação profunda sobre sombras internas e ancestrais desconhecidos.
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Oferendas de sangue, vinho ou leite a entidades lunares.
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Reativação de pactos espirituais adormecidos.
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Uso de espelhos mágicos para comunicação com o Submundo.
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Colheita de ervas sob a luz do eclipse para poções de banimento ou encantamento amoroso de atração obsessiva.
Astrologia mágica e animista é uma via de comunicação direta entre o mago e o espírito vivo do Cosmos. Não é uma ciência morta, nem um simples horóscopo psicológico: é teurgia celeste, onde cada astro é uma divindade, cada ciclo é uma respiração cósmica e cada eclipse é um grito ancestral que vem do céu.
Dominar essa arte não é apenas conhecer efemérides, mas saber falar a língua viva das estrelas, oferecendo, trocando, evocando, amaldiçoando e abençoando com a mesma naturalidade com que se respira.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fr. AHA-ON, 777 ∵
7 DE MARÇO DE 2025 E.V. – Thelema vs Cultura Woke
Cara Soror,
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Obrigado pela mensagem e apreciação de meu trabalho. Vou chamar essa resposta de Thelema vs Cultura Woke: uma contradição filosófica, mágica e iniciática. Suas inquietações chegam em um momento onde exploro esse assunto em um texto para a nova edição de A Lança & o Graal que se chamará De todo não temais, referência a Liber AL vel Legis III:17. Você chegou a ler a atualização de meu diário virtual sobre Os Perigos do Feminismo em Thelema? Se não, sugiro a leitura para completar o que aqui vou discorrer.
A infiltração da cultura woke no coração da Ordo Templi Orientis e da comunidade thelêmica internacional não representa apenas uma distorção administrativa ou uma mera atualização ética. Trata-se, na verdade, de uma contradição ontológica em relação ao próprio fundamento filosófico e metafísico de Thelema. Ao abraçar ideologias de matriz igualitária, coletivista e vitimista, a atual administração da O.T.O. e grande parte da comunidade thelêmica moderna abandonaram os princípios fundamentais que Aleister Crowley legou à Ordem e à A∴A∴: a supremacia da Vontade Individual e a autogovernança divina do Iniciado.
O Liber AL vel Legis, pedra angular de Thelema, é absolutamente claro: Tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade (I:42). Essa injunção fundamental destrói a própria ideia de uma moral externa imposta, seja ela religiosa, estatal ou ideológica. A Verdadeira Vontade é uma função individual do contato direto entre o Iniciado e seu Sagrado Anjo Guardião – qualquer tentativa de regular ou balizar essa Vontade a partir de dogmas coletivistas é uma traição direta ao espírito de Thelema. Como enfatiza Crowley no Magick Without Tears: toda moralidade herdada é uma forma de servidão espiritual. E, portanto, qualquer doutrina progressista que instrua o thelemita a pensar ou agir de acordo com pautas sociais é, por definição, um retrocesso para a moralidade do rebanho.
No II° O.T.O., o candidato jura seguir a Declaração de Direitos do Homem, da qual Liber LXXVII vel OZ deriva, que postula o direito absoluto do indivíduo de pensar, agir, criar e destruir conforme sua própria Vontade. Não há espaço, em nenhum momento do Liber OZ, para a noção de responsabilidade social no sentido woke: O homem tem o direito de matar aqueles que quereriam contrariar estes direitos. Em Thelema, o homem é soberano dentro de sua própria esfera de influência. Restrições morais sobre pensamento, fala, comportamento e expressão são chamadas pelo próprio O Livro da Lei de a palavra de pecado (I:41).
A cultura woke insiste em obliterar qualquer distinção entre masculino e feminino, chegando ao extremo de desconstruir a própria biologia sob a égide da ideologia de gênero. Essa visão é absolutamente incompatível com o sistema mágico sexual desenvolvido por Crowley para a O.T.O., que é fálico e androcêntrico por natureza. Como se lê em Liber Agape: o homem é o guardião da Vida de Deus, e a mulher é um veículo temporário – o Graal que recebe o sêmen solar. Essa estrutura binária e hierárquica é o cerne da magia sexual thelêmica, sendo o PHALLUS o emblema da Verdadeira Vontade criadora, e a YONI o receptáculo lunar, a matéria-prima passiva a ser fecundada.
Tentar reescrever esse simbolismo em termos de corpos com pênis e corpos com vulvas é não apenas ridículo, mas uma profanidade contra os próprios mistérios da tradição iniciática thelêmica. Como afirma Crowley em Magick in Theory and Practice: o Phallus é a chave de toda verdadeira iniciação. Ele é o cetro solar, a vara axial que reconecta Céu e Terra, Espírito e Matéria. Qualquer tentativa de neutralizar ou dissolver esse simbolismo através da linguagem inclusiva ou da ideologia de gênero é deturpar a própria espinha dorsal da teurgia sexual de Thelema.
Thelema não é uma doutrina igualitária. Crowley descreve abertamente sua filosofia como aristocrática e meritocrática, reservada àqueles que conquistaram sua Verdadeira Vontade através de disciplina e autodomínio. Em Liber AL vel Legis, o próprio Hórus declara: Desprezai todos os covardes, soldados profissionais que não ousam lutar. (III:57) E Vós sois contra o povo, Ó meus escolhidos! (II:25); Eu vos darei uma máquina de guerra. Com ela vós golpeareis os povos; e nenhum ficará de pé diante de vós. (III:7-8) Essa é a mesma crítica que Friedrich Nietzsche faz à moralidade de rebanho: os fracos, incapazes de criar valores próprios, inventam ideologias igualitárias para nivelar todos por baixo. Ao adotar a cultura woke, a O.T.O. atual converte-se em uma paródia decadente daquilo que deveria ser – uma escola de aristocracia espiritual, forjadora de Übermenschen mágicos.
Babalon não é uma força ou arquétipo feminista. Babalon é o Graal e a Prostituta Sagrada porque ela aceita ser penetrada pela Lança da Vontade Solar, servindo como matriz receptiva da Palavra Mágica. Feministas thelemita-z que dizem não sou sua Babalon apenas revelam sua ignorância da função litúrgica da Mulher Escarlate. Como bem aponta o Liber Agape: A mulher é um santuário, mas não é o Deus. Essa distinção não é um capricho machista; é uma estrutura arquetípica e mística, fundada na alquimia sexual e nos mistérios tântricos do Lingam e da Yoni.
A tentativa woke de transformar Babalon numa bandeira feminista é uma distorção grotesca. Babalon não é uma vítima do patriarcado; ela é a Rainha do Céu e da Terra porque aceita e deseja a submissão ritualística à Vontade Solar. A inversão woke desse mistério sagrado transforma Babalon em uma caricatura, retirando seu poder místico e convertendo-a em uma porta-voz de militâncias rasteiras.
A cultura woke, ao tentar enxertar no corpo de Thelema suas ideias de justiça social, equidade e linguagem controlada, transforma a religião da Vontade em um culto à vítima – exatamente o oposto da aristocracia espiritual de Crowley. Thelema é um caminho de criação de valores próprios, não de submissão a normas externas. Em Liber Aleph, Crowley deixa claro: Para ter Liberdade, o homem deve criar sua própria lei. Isso significa que nenhuma ideologia coletiva pode se sobrepor à Verdadeira Vontade individual.
Thelema não é compatível com a cultura woke porque Thelema é a antítese da conformidade moral. Crowley não escreveu uma doutrina de direitos humanos ou um código de conduta progressista. Ele escreveu uma Lei de Liberdade Total, que exige do Iniciado a coragem de pensar e agir sem desculpas ou concessões. A atual administração da O.T.O., ao tentar adaptar Thelema aos valores de justiça social, não apenas trai Crowley, mas transforma a Ordem numa casca vazia – uma simulação grotesca e inofensiva do que deveria ser uma escola de aristocratas da Vontade.
Como escreve Crowley em Liber II: A Natureza é cruel, implacável e imoral; tudo isso é verdade. E a Natureza é correta. Thelema é a afirmação dessa Natureza, não a tentativa de reformá-la segundo os caprichos ideológicos de uma geração fragilizada. A verdadeira missão da O.T.O. é criar Gênios e Bestas 666, não ativistas de Twitter-X.
Que os thelemitas despertem para essa verdade — ou pereçam na mediocridade autoimposta da moral woke. O Novo Aeon pertence aos fortes.
Desta resposta irei produzir um manifesto!
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fr. AHA-ON, 777 ∵
8 DE MARÇO DE 2025 E.V. – Thelema vs transgenerismo
Cara Soror,
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Compreendo seu dilema, suas dúvidas, seus rancores, traumas e frustrações sobre as ponderações que teci em meu texto sobre Os Perigos do Feminismo em Thelema e a última resposta que lhe enviei, Thelema vs Cultura Woke: uma contradição filosófica, mágica e iniciática. Com relação as suas considerações, essa resposta que segue dou o nome de A Deturpação da Missa Gnóstica: o perigo do transgenerismo e da cultura queer na magia sexual thelêmica. Essas ideias com as quais você está flertando, como iniciada da O.T.O., veja bem: não são e não fazem parte do corpo doutrinal e estrutural da ordem. Elas vêm de fora e são fruto da profunda inadequação de alguns membros, os thelemita-z, ao sistema fálico e androcêntrico da O.T.O. Então vou começar do início, ponderando sobre cada uma de suas missivas.
A ascensão das ideologias da cultura woke, do transgenerismo e da teoria queer nos círculos esotéricos modernos, em especial dentro da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), tem gerado um profundo dilema sobre a integridade dos rituais mágicos originais estabelecidos por Aleister Crowley. A recente insistência em aceitar mulheres trans (ou seja, homens biológicos que se identificam como mulheres) como Sacerdotisas na Missa Gnóstica não é apenas uma distorção da fórmula original da magia sexual thelêmica, mas um atentado direto contra os princípios biológicos e metafísicos da sexualidade sagrada. Este texto visa expor, com base nos escritos de Crowley e em autores contemporâneos como Nine Borges, os perigos dessa deturpação e os impactos destrutivos que essa mentalidade pode trazer para a tradição.
Aleister Crowley estabeleceu a Missa Gnóstica como o principal rito público da O.T.O., simbolizando, entre outras coisas, a união do PHALLUS e do GRAAL, o mistério central da magia sexual do IX° Grau da ordem. O Sacerdote representa o princípio ativo masculino, o Logos fecundador; a Sacerdotisa, por sua vez, é o receptáculo sagrado, a Matriz de Babalon, a manifestação do princípio receptivo feminino. Essa dualidade não é uma construção arbitrária, mas uma estrutura mística e biológica essencial à magia thelêmica. Em Magick in Theory and Practice, Crowley afirma: A Grande Obra pode ser simbolizada como a União do Masculino e do Feminino, do Sol e da Lua, do Falo e do Graal.
A distinção entre os sexos na Missa Gnóstica é, portanto, metafísica e sagrada, não uma mera convenção social. A substituição da Sacerdotisa por um homem biológico, independente de sua identidade de gênero, corrompe a fórmula mágica e rompe a própria estrutura sobre a qual Thelema e a O.T.O. foram construídas.
A cultura queer, que tem suas raízes na teoria pós-moderna e no ativismo de gênero, argumenta que o sexo biológico é irrelevante e que a identidade de gênero pode ser autodeclarada, independente da realidade objetiva. Essa ideologia, nas palavras de Nine Borges, leva a um colapso da ordem natural e ao culto do caos: A ideia de que a identidade pode ser simplesmente autoafirmada sem qualquer conexão com o corpo é uma fuga da realidade, uma degeneração do ser, e não uma evolução. (Nine Borges em Feminismo e a Revolução das Mentiras).
A aceitação de uma sacerdotisa-trans na Missa Gnóstica não é um ato de inclusão, mas uma subversão do princípio hierogâmico, um desmantelamento dos pilares sexuais sobre os quais Crowley construiu o sistema iniciático da O.T.O. Veja o portfólio do livro A Lança & o Graal. Leia todo ele.
No Liber AL vel Legis, encontramos a exortação: Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei. (I:40) A Verdadeira Vontade, no entanto, não é uma licença para a perversão do sagrado. Não é a vontade individual do iniciado que pode reconfigurar os Mistérios, mas sim os Mistérios que moldam e desafiam o iniciado. O culto queer é a antítese desse princípio, pois impõe uma inversão ideológica em que a subjetividade do indivíduo se torna mais importante do que a tradição objetiva dos rituais.
A disforia de gênero é um transtorno documentado na psiquiatria, caracterizado por um profundo desconforto com o sexo biológico. Estudos demonstram que a grande maioria dos casos de disforia em crianças e adolescentes se resolve naturalmente na vida adulta sem intervenção médica ou social. No entanto, a cultura woke transformou essa condição em um dogma ideológico, onde qualquer tentativa de questionamento é vista como transfobia.
Crowley, ao falar sobre iniciação e identidade espiritual, não apenas rejeita a negação da realidade material como ferramenta de autoengano, mas alerta sobre o perigo da falsa iluminação. Em Liber CL: De Lege Libellum ele diz: O maior inimigo do magista é a ilusão; cair na armadilha de confundir desejo com realidade é o fim de qualquer progresso.
Se a magia depende da Verdadeira Vontade e da aceitação incondicional da Verdade, então a inclusão de ilusões subjetivas na Missa Gnóstica corrompe sua potência e reduz sua eficácia a um teatro profano.
O feminismo contemporâneo, alinhado à ideologia queer, defende que o gênero é um espectro e que qualquer um pode ser mulher independentemente da biologia. Nine Borges, crítica feroz do feminismo e do transgenerismo, aponta que essa fusão entre feminismo e ideologia de gênero cria um ciclo de destruição interna: A dissolução do conceito de mulher não fortalece ninguém, apenas cria um mundo onde ninguém é nada, onde as palavras não significam nada e onde a única regra é a autoaniquilação. (Nine Borges em O Efeito Pós-Moderno no Feminismo).
Isso se aplica diretamente à magia sexual. A Missa Gnóstica e os ritos da O.T.O. exigem papéis sexuais definidos, porque operam com a realidade objetiva da energia sexual e espiritual. O culto queer, ao invés de fortalecer a busca espiritual, promove a dissociação do corpo e da alma, algo que Crowley consideraria um obstáculo absoluto à iniciação. Em Confessions Crowley escreve: Não há magia sem polaridade; a união dos opostos é a essência de todo poder criativo.
A substituição do feminino pelo masculino autodeclarado destrói essa polaridade e, consequentemente, aniquila a eficácia do rito.
A corrupção da O.T.O. moderna pela cultura woke e queer não é um fenômeno isolado. O desaparecimento da tradição, a degradação dos mistérios e a vulgarização dos ritos têm sido problemas recorrentes em ordens esotéricas que sucumbem à pressão social. Crowley anteviu esse perigo ao alertar sobre o culto da fraqueza e da escravidão moral em Liber Aleph. Ele diz: A verdadeira maldição do mundo moderno é sua servidão voluntária a ideais fabricados, em que a Vontade é sacrificada em nome do conformismo e da mediocridade.
Ao aceitar mulheres trans como Sacerdotisas na Missa Gnóstica, a O.T.O. moderna está abandonando sua essência original e se tornando mais uma ferramenta de doutrinação da cultura woke, um fantoche nas mãos do zeitgeist do Séc. XXI, dejeto de Choronzon. Toda cultura moderna baseada neste zeitgeist é excremento chozonzônico... O fim desse caminho é claro: a completa irrelevância da magia sexual thelêmica, o eixo teúrgico da tradição, reduzida a um espetáculo teatral progressista sem poder real.
Thelema não pode se curvar à ideologia woke sem se destruir. A inclusão da ideologia queer na Missa Gnóstica é uma distorção grave, uma tentativa de moldar os Mistérios à vontade do homem moderno degenerado, ao invés de elevar o homem até os Mistérios. Se a O.T.O. permitir essa degradação, deixará de ser um caminho iniciático real e se tornará apenas mais uma religião secular, sem poder, sem verdade e sem futuro. A restauração da Verdadeira cultura e tradição thelêmicas exige resistência. Como Crowley escreve em seus comentário a O Livro da Lei: Nenhum verdadeiro Adepto aceita as mentiras do mundo moderno; seu caminho é de ferro, forjado na Verdadeira Vontade.
Feita a devida contextualização, passamos a aspectos importantes a serem considerados acerca dos Mistérios que envolvem a Missa Gnóstica.
A Missa Gnóstica é uma das expressões mais sublimes da teurgia thelêmica. Mais do que um simples ritual cerimonial, a Missa é a dramatização simbólica da fórmula central da magia sexual de Thelema: a União do PHALLUS e do GRAAL, do princípio ativo e passivo, do masculino e do feminino. Esses papéis são necessários e imutáveis, pois refletem princípios metafísicos e biológicos fundamentais.
A estrutura da Missa Gnóstica baseia-se em um equilíbrio preciso de forças polarizadas. O Sacerdote representa o princípio solar e fálico, a energia criadora que fecunda e dá vida. A Sacerdotisa, por sua vez, é a manifestação da Deusa, o cálice da matéria viva, o útero da criação. Esta divisão não é arbitrária, mas sim a reprodução ritual da própria ordem cósmica. Aleister Crowley em Magick in Theory & Practice, define claramente a importância da polaridade: A energia sexual é a chave de todo poder mágico. A sua operação requer a conjunção das forças masculinas e femininas, pois a criação surge da união dos opostos.
Na Missa Gnóstica, cada elemento do ritual segue uma estrutura precisa: O Sacerdote é o portador da Lança, símbolo do PHALLUS, do Fogo Criador e da Verdadeira Vontade. Ele é Hadit, o Espírito indomável que se eleva e fecunda. A Sacerdotisa é o Cálice, Babalon, a receptividade absoluta, o Graal que recebe e transmuta a energia solar. A interação entre os dois é a consumação do hieros gamos, a união sagrada que gera a Criança Mágica, a manifestação visível do poder criador.
Não há substituto para essa polaridade. Um homem biológico que se identifica como mulher não pode cumprir o papel da Sacerdotisa, pois sua natureza energética e biológica não corresponde ao princípio feminino do rito. Essa substituição não apenas viola a precisão técnica do mistério, mas anula o próprio poder da operação.
A fórmula mágica Abrahadabra, a Palavra do Aeon de Hórus, só se manifesta na união correta do Falo e do Graal. Como Crowley escreve em Magick in Theory & Practice. Ele diz: A Lança e o Cálice são os fundamentos de nossa ciência e arte; neles está encerrada a chave de todo Mistério.
Quando um homem toma o lugar da Sacerdotisa, esse equilíbrio é quebrado. A energia não é mais dirigida corretamente, e o rito se torna um teatro vazio, sem eficácia teúrgica. Isso representa a morte espiritual do próprio rito e a corrupção do sistema iniciático da O.T.O.
A decadência moderna não é apenas social ou cultural, mas espiritual. O homem perdeu seu eixo metafísico; ele se afundou em relativismos, perdeu o contato com os princípios cósmicos imutáveis e busca dissolver os Mistérios no caldo morno do igualitarismo. O transgenerismo e a cultura woke são sintomas de uma doença maior: a negação da ordem e da realidade objetiva.
A fórmula mágica necessária para a restauração da virilidade espiritual e do mistério sagrado é a prática consciente do hieros gamos, do Casamento Sagrado, na sua estrutura correta. Isso significa:
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Resgatar a função do PHALLUS como centro de poder criador: O homem deve reassumir sua posição como portador da Lança Sagrada, como emissário do Logos e canalizador da Vontade.
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Reconhecer a Sacerdotisa como a verdadeira Senhora do Graal: A mulher tem um papel fundamental, mas não como um homem disfarçado de mulher, e sim como a verdadeira Mãe-Babalon, a receptora sagrada da luz.
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Restaurar a Missa Gnóstica à sua forma original: Sem concessões ao politicamente correto, sem distorções. O ritual deve ser executado da forma como foi concebido, respeitando as forças sexuais e espirituais envolvidas.
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A fórmula de Redenção está na reafirmação do poder divino do masculino e do feminino em seus lugares corretos. Julius Evola, ao tratar da restauração da virilidade sagrada, afirma em The Metaphysics of Sex: O homem moderno foi emasculado, castrado em espírito e corpo. A única salvação é a restauração do princípio solar da virilidade divina, pois apenas o homem que reconquista sua Lança pode abrir as portas do mistério e reordenar o caos.
Isso se aplica diretamente à Missa Gnóstica. Sem o Sacerdote solar e a Sacerdotisa lunar, a Grande Obra não pode ser consumada. Sem o PHALLUS, não há transmissão do Fogo Sagrado. Sem o Graal autêntico, não há receptáculo para a Luz.
Se a O.T.O. e as ordens thelêmicas continuarem a ceder ao igualitarismo e ao culto da confusão de gênero, elas se transformarão em meros simulacros de sua própria grandeza. A cultura woke, que Crowley teria desprezado, não pode ser o novo alicerce de Thelema. A Verdadeira Vontade não pode ser sacrificada em nome da conveniência social.
O próprio Crowley, em O Livro das Mentiras, alerta para os perigos do declínio espiritual: O homem escravizado às modas de sua época é um cadáver ambulante; sua vontade é fraca, sua mente é uma névoa. Ele não pode dominar a si mesmo, muito menos o mundo.
A aceitação de uma sacerdotisa-trans na Missa Gnóstica não é inclusão, mas subversão. Não é liberdade, mas a escravidão do espírito à confusão (Choronzon).
O resgate de Thelema exige que a Missa Gnóstica retorne à sua estrutura original, com respeito absoluto às forças metafísicas que ela representa. É preciso rejeitar as deturpações modernas e reafirmar a sacralidade do PHALLUS e do GRAAL, a união eterna entre o Sol e a Lua, entre o Sacerdote e a Sacerdotisa verdadeiros.
A fórmula mágica que pode redimir o homem desta era decadente não está na desconstrução dos ritos, mas no seu retorno ao sagrado. A Missa Gnóstica, executada corretamente, é um canal direto para o Fogo de Thelema. A distorção de seus papéis, porém, é um passo para a dissolução da própria Ordem.
A restauração da Virilidade Mágica e do Feminino Sagrado não pode ser negociada. Thelema não é relativista, não é subjetiva, não se curva às ideologias modernas. O PHALLUS deve ser erguido como a Lança da Vontade, e o Graal deve ser honrado como o receptáculo do Espírito.
Que a O.T.O. resista à corrupção woke e retorne à Verdadeira Lei de Thelema, pois somente assim seu poder será preservado. Que o magista levante sua Lança, que a Sacerdotisa ofereça seu Graal, e que a Palavra de Poder ecoe novamente no Templo: Abrahadabra – a união da Verdadeira Vontade com o Cosmos.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fr. AHA-ON, 777 ∵
10 DE MARÇO DE 2025 E.V. –
Ordo Argentium Astrum: Casa do Conhecimento & da Luz
Care Frater,
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Saudações Aspirante em nome da Estrela de Prata. Recebi a carta e sua sincera busca pelo Conhecimento não passa despercebida. As dúvidas que te afligem são naturais, e sei que a expectativa diante da Iniciação pesa sobre teus ombros. É sempre um sinal promissor quando um Probacionista se aproxima da alvorada de sua verdadeira jornada com inquietação e desejo de compreender melhor o caminho à sua frente. Permita-me, então, iluminar tua mente com aquilo que já foi revelado e o que cabe ao teu grau discernir.
É natural que, ao se aproximar da transição de Probacionista para Neófito, tua alma clame por compreensão e por certeza no caminho que escolheu trilhar. Sei que desejas compreender os rituais da A∴A∴, suas formas e métodos e, em particular, tens ouvido rumores sobre antigos rituais coletivos, como Liber DCLXXI vel Troa. Permita-me, pois, esclarecer este ponto com precisão e profundidade, pois tua jornada demanda que a Verdade te seja revelada.
Antes de tudo, deves compreender a natureza da A∴A∴. Não somos uma Ordem como as que vieram antes, e nossa iniciação não se dá por meio de grupos, congregações ou hierarquias externas, mas pelo esforço individual do Aspirante em sua comunhão direta com a Verdadeira Luz. Quando Frater Perdurabo (Aleister Crowley) e Frater Achad (Charles Stansfeld Jones) criaram a estrutura da Ordem, eles a moldaram com base no que compreendiam como sendo a Iniciação, inspirando-se nas tradições da Ordem Hermética da Aurora Dourada. Contudo, essa base logo se revelou inadequada para a missão que tinham em mãos. Assim, sem qualquer autoridade externa a guiá-los, sem a tutela dos Chefes Secretos, eles se lançaram como construtores de navios, tentando alcançar o Reino da Estrela de Prata, mas ainda sentindo-se indignos diante do Santuário Interior. Isso mudou em 10 de dezembro de 1906 e.v., quando Crowley registrou em seu diário: Jones diz que Ou Me é 8°=3*, eu digo Mollie Lee thymes ambos. Isso me purifica e consagra, de modo que sinto «Eu sou genuíno, sem escrúpulo ou diferença. Nenhuma personalidade».
Essa declaração pode parecer enigmática, mas a chave está em Confessions, onde ele escreve: No mês de dezembro, os Chefes Secretos formalmente me convidaram, através de G.R. Frater D.D.S., a tomar meu lugar oficialmente na Terceira Ordem. Foi nesse momento que Crowley assumiu o grau de Magister Templi 8°=3*, compreendendo que seu destino era carregar um fardo particular pelo bem da humanidade. Como Magister, sua responsabilidade era cuidar de um jardim de Conhecimento que não poderia ser transmitido abaixo do Abismo. Isso se tornou ainda mais evidente quando, percebendo as limitações da Aurora Dourada, ele entendeu que deveria reformular completamente o sistema de iniciação. Como é dito em Uma Estrela à Vista: Os membros da Terceira Ordem [...] são cada um deles autorizados a fundar Ordens dependentes de si mesmos nos moldes das Ordens R. C. e G. D., cobrindo tipos de emancipação e iluminação não contemplados pelo sistema original (ou principal). Todas essas ordens devem, no entanto, ser constituídas em harmonia com a A∴A∴ no que diz respeito aos princípios essenciais.
É com base nessa autoridade que Crowley estabeleceu a A∴A∴ como a conhecemos hoje, constituída de uma Primeira e Segunda Ordens sob a égide da Terceira, e aboliu os antigos rituais coletivos. Como bem sabes, na Aurora Dourada, nenhum iniciado havia jamais ultrapassado o grau de Adeptus Exemptus 7°=4*, pois acreditavam que os três graus finais na Árvore da Vida eram inalcançáveis por aqueles que ainda estavam encarnados. A ideia de que um ser humano poderia tornar-se um Chefe Secreto em vida era-lhes estranha. Isso mudou quando Crowley cruzou o Abismo e assumiu o nome de Vi Veri Vniversum Vivus Vici (Pelo poder da Verdade, Eu, em minha vida, conquistei o Universo).
Agora, meu jovem Irmão, entendes porque não há rituais coletivos na A∴A∴. Quando Crowley estruturou a Ordem, percebeu que os métodos antigos não serviam ao Novo Aeon. Ele mesmo tentou, por um tempo, formular iniciações no estilo da Aurora Dourada, mas logo as abandonou. Liber DCLXXI vel Troa, o ritual que te causou dúvidas, era um desses. Nele, o candidato era conduzido por dois oficiais – o Hiereus e o Hegemon – como na tradição maçônica. Mas esse método não era suficiente para a verdadeira iniciação. Em 4 de outubro de 1908 e.v., enquanto realizava seu retiro mágico descrito em João São João, Crowley escreveu: Agora me sento para meditar sobre este novo ritual.
Foi nesse momento que ele abandonou os rituais coletivos e criou Liber Pyramidos, um verdadeiro rito de iniciação individual. Esse ritual, meu Irmão, será o que terás de atravessar para cruzar a soleira e tornar-te Neófito. Diferente de qualquer outro, é um rito solitário, realizado apenas pelo próprio candidato, onde ele confronta sua própria Alma e seu Sagrado Anjo Guardião. Não há mestres segurando sua mão, não há guias externos – apenas a Luz interior que deves encontrar por ti mesmo.
Ainda assim, alguns grupos modernos nos EUA, desde a década de 1980 e.v., decidiram reviver esses ritos coletivos ultrapassados, utilizando Liber Troa e outros como forma de iniciação. Nenhum desses ritos foi jamais realizado por Crowley ou por Karl Germer, seu legítimo sucessor. Estes grupos, ao retornarem às velhas formas, apenas querem parecer detentores de segredos que não estão disponíveis nos livros, mas a verdade é clara: a iniciação da A∴A∴ é individual.
Portanto, Aspirante, ouve bem estas palavras: teu Caminho é solitário. Não há sacerdotes que te conduzam, não há cânticos que te elevarão, apenas tua própria Vontade e tua própria Luz. Quando chegares ao limiar de tua Iniciação, será apenas tu e o Silêncio. Mas não temas: aqueles que cruzaram antes de ti estão observando, e tua passagem ecoará pelo tempo e pelo espaço.
Que as palavras desta carta ressoem em tua alma como um chamado à Verdadeira Vontade. Agora que compreendes a essência solitária de tua Iniciação, é fundamental que voltes teus olhos aos Livros Sagrados de Thelema, pois neles repousam os segredos que não podem ser ensinados, mas apenas desvelados na alma do Adepto.
Medita, sobretudo, sobre as parábolas ocultas em Liber LXV, pois estas são espelhos onde tua própria jornada será refletida. Entre todas, permito-me indicar-te uma em especial, que há de guiar teus passos nesta travessia: a Parábola da Imagem Pálida do Ouro Fino (Cap. II, Vs. 7-17).
Nela, o Escriba, movido pela paixão ardente de seu coração, atira-se ao Rio da Vida, onde avista uma imagem dourada de Asi – um reflexo da divindade moldado no ouro mais fino. Encantado, ele a adora com toda a flor de sua juventude, oferecendo-lhe incenso, amor e devoção. Mas, com o tempo, algo terrível acontece: a imagem não responde, não se move, e começa a escurecer. O ouro resplendente torna-se negro, maculado pelo próprio fervor do aspirante, que, sem perceber, adorava a sombra da Verdade, e não sua Essência.
Diante da decepção e da dúvida, o Escriba quase abandona sua jornada, quase se lança de volta à correnteza do esquecimento. Mas ele persiste. E então, no fim marcado, a Deusa se ergue em sua Glória Verdadeira – mais branca que o leite das estrelas, seus lábios rubros e ardentes como o ocaso, sua presença uma chama viva como o fogo do Sol do meio-dia. E nesse instante, o Escriba compreende que ela nunca havia mudado – fora ele quem mudara.
Essa parábola, meu Irmão, é o espelho da tua própria Iniciação. Tudo que aprenderes, tudo que venerares, tudo que buscares, no início parecerá reluzente e perfeito – mas cedo ou tarde essa imagem se mostrará imperfeita, pois não passa de um reflexo. Muitos se desesperam nesse momento, perdem a fé, abandonam o Caminho. Mas aqueles que persistem, aqueles que não confundem a casca com o fruto, atravessam o véu da ilusão e encontram a Verdade viva, em seu esplendor mais puro.
Portanto, Aspirante, não te contentes com a imagem. Se teu coração busca a Verdade, não te prendas às formas, aos ritos, aos nomes ou às aparências externas. A Verdadeira Luz está dentro de ti, e tua jornada em direção a ela é solitária – mas também gloriosa.
Que o Fogo da tua Vontade te guie. Que a Estrela de Prata te ilumine.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fr. AHA-ON, 777 ∵
12 DE MARÇO DE 2025 E.V. –
A doutrina dos Irmãos Negros, a Quimbanda & o Logikoi da Hermética
Care Frater,
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Recebi tua preocupação e compreendo o motivo de tuas indagações. O Caminho da A∴A∴ é árduo, pois exige um compromisso inabalável com a Verdadeira Vontade, e ao longo desse percurso, muitos nos acusarão e levantarão falsos testemunhos sobre nós. Dizes que há rumores afirmando que, por me tornar um feiticeiro da Quimbanda, eu teria caído em desgraça e agora seria um Irmão Negro. Tal acusação não poderia ser mais equivocada, pois demonstra uma compreensão deficiente tanto da natureza da feitiçaria quanto da própria doutrina dos Irmãos Negros, conforme revelada nos escritos de Aleister Crowley, especialmente em Magick Without Tears, Capítulo 12, e no Liber 418: The Vision & the Voice, nos Aethyrs 14, 13, 12, 7 e 3. Após essa introdução, segue algumas pontuações técnicas no que concerne o assunto.
Em primeiro lugar, Crowley rejeita explicitamente a noção de que a magia ou a busca pelo poder espiritual sejam, em si mesmas, sinais de um Irmão Negro. Ele define magia como a Ciência e a Arte de causar Mudanças de acordo com a Vontade e ensina que seu propósito supremo é alinhar-se à Verdadeira Vontade. Como diz no Magick in Theory and Practice: A Magia é a mais alta e a mais absoluta, e a mais divina compreensão da Lei da Natureza. Portanto, não há condenação alguma ao feiticeiro que busca, por meio do seu ofício, realizar a Vontade.
Os Irmãos Negros são definidos não pela prática da magia, mas por sua recusa em atravessar o Abismo. No Liber 418, particularmente nos Aethyrs 13 (ZIM) e 12 (LOE), Crowley descreve que aqueles que falham no Abismo não são magos poderosos, mas sim aqueles que se recusam a abandonar seu Ego, que tentam preservar uma identidade ilusória e, assim, se tornam estéreis espiritualmente. Diz ele no Aethyr 12: O Irmão Negro é aquele que constrói um muro ao seu redor e diz: «Eu sou eu, e nada além de mim existe». E então ele define sua identidade em termos ilusórios e se separa da Corrente da Luz Divina.
Assim, o verdadeiro critério para identificar um Irmão Negro não é sua arte mágica, mas seu rompimento com a Vontade Cósmica. Ele não cria, não gera, não irradia a luz da Verdadeira Vontade – ele apenas acumula, se fortalece artificialmente, mas sem nada oferecer ao mundo. No Aethyr 7 (DEO), vemos a consequência desse estado: Os Irmãos Negros perecem em sua própria escuridão, pois não podem mais absorver a luz, tendo se tornado estéreis.
Agora, vejamos a Quimbanda. Este é um caminho mágico e iniciático, uma tradição de feitiçaria profundamente enraizada na relação com os Espíritos Ganga. Como sabemos, não há um só caminho legítimo para a Verdadeira Vontade, e o trabalho com os ancestrais divinizados na Quimbanda – os equivalentes aos Chefes Secretos da A∴A∴ – é um dos muitos meios pelos quais um magista pode desenvolver sua iniciação. Crowley, ao longo de sua vida, esteve em contato com diversas tradições de magia cerimonial, Ocultismo e cultos de feitiçaria, e nunca condenou um sistema mágico apenas por sua forma externa.
Se alguém sugere que feitiçaria, por si só, é um sinal de queda ou de corrupção, falta-lhe entendimento sobre a própria essência da Grande Obra. A feitiçaria é uma ferramenta – assim como a cabalá, o tarot, os ritos como Liber Resh, os rituais da Aurora Dourada – e seu valor reside no propósito que a anima. Se um feiticeiro da Quimbanda opera alinhado à sua Verdadeira Vontade, seu caminho é tão válido quanto o de qualquer thelemita que atinge a compreensão dos Mistérios por meio de outros métodos.
Portanto, Frater, te encorajo a refletir sobre a essência desse ensinamento. Aqueles que julgam precipitadamente a feitiçaria sem compreendê-la demonstram estar presos às ilusões da dualidade e da ignorância – e nosso papel é trazer Luz onde há trevas.
Para encerrar esta introdução, te convido a meditar sobre uma passagem dos Livros Sagrados de Thelema, a Parábola da Imagem Pálida do Ouro Fino (LXV, II: 7-17). Este ensinamento revela um segredo profundo: a forma externa das coisas não é a sua essência. Muitos se prendem à adoração da aparência, confundindo o reflexo com a Verdade. Mas o Iniciado, o verdadeiro Adepto, não se satisfaz com sombras – ele busca o Ouro Verdadeiro: não confunda a casca com o fruto, nem a sombra com a Luz. Segue a instrução que precisa. Teci argumentações técnicas sobre a doutrina dos Irmãos Negros, comparei com o feiticeiro da Quimbanda e encerro comparando-os ao logikoi do Corpus Hermeticum.
No pensamento de Aleister Crowley, os Irmãos Negros não são simplesmente feiticeiros ou praticantes da mão esquerda, mas representam uma categoria específica de indivíduos dentro do sistema iniciático de Thelema, definida pela falha em atravessar o Abismo e alcançar o grau de Magister Templi na A∴A∴. O próprio Crowley rejeita a ideia de que a feitiçaria, a prática da magia ou até mesmo a busca por poderes ocultos sejam condições para alguém ser um Irmão Negro. Para entender isso, devemos recorrer às suas explicações no Capítulo 12 de Magick Without Tears e ao estudo aprofundado do Liber 418: The Vision & the Voice, especialmente os Aethyrs 14, 13, 12, 7 e 3, nos quais Crowley analisa o destino dos que falham na iniciação e se tornam os Irmãos Negros.
A doutrina dos Irmãos Negros está diretamente ligada à travessia do Abismo, a esfera de Daath, que separa o mundo manifesto das realidades mais elevadas da Árvore da Vida. No sistema da A∴A∴, um Adeptus Exemptus 7°=4 precisa abandonar sua individualidade e permitir que sua consciência seja absorvida por Binah, tornando-se um Magister Templi 8°=3 e servindo como um canal para a Vontade Divina.
No entanto, aqueles que falham nessa travessia e se recusam a abandonar seu Ego tornam-se Irmãos Negros. Eles se apegam à sua identidade pessoal e, em vez de se tornarem veículos da Verdade Universal, isolam-se dentro de suas próprias ilusões. Em Magick Without Tears, Crowley escreve: O Irmão Negro é aquele que se recusa a destruir seu ego no Abismo. Ele tenta criar um universo próprio, mas como não pode obter nova energia além de si mesmo, está fadado a se tornar uma tumba ambulante, um morto-vivo espiritual.
Isso significa que o Irmão Negro não é alguém que pratica feitiçaria ou magia, mas sim aquele que se recusa a transcender seu próprio Ego e, assim, se desconecta da corrente de Luz.
Eu tenho muitos problemas com o entendimento da palavra ego como utilizada na magia moderna psicologizada. Essa é uma palavra grega que, no contexto do Corpus Hermeticum, por exemplo, pode se referir ao próprio nous. Mas em se tratando de Thelema, não há como fugir desta revisão psicologizada.
Nos Aethyrs 14, 13 e 12, Crowley descreve os estágios da queda dos Irmãos Negros e sua estagnação no Abismo. O Aethyr 14 (UT) mostra aqueles que buscam criar seu próprio reino de poder, mas falham ao não reconhecer que toda existência verdadeira vem da entrega a Taça de Babalon. No Aethyr 13 (ZIM), ele encontra aqueles que se apegam às suas ilusões de poder e conhecimento, tornando-se entidades separadas do fluxo divino. Finalmente, no Aethyr 12 (LOE), ele vê que esses indivíduos estão espiritualmente mortos, pois tentaram manter suas imagens, mas se esgotaram por não possuírem uma forma genuína de energia. Aqui uso as palavras forma e imagem no sentido platônico técnico.
Crowley reforça que a característica essencial de um Irmão Negro não é a busca pelo poder mágico, mas sim o isolamento espiritual e a recusa em se render à Vontade Superior.
No Aethyr 7 (DEO), vemos que o destino final dos Irmãos Negros é a dissolução, pois, tendo recusado a absorção em Binah, não possuem mais fonte de energia. Crowley descreve: Seu castelo é feito de sombras, e eles habitam em meio a coisas secas, pois tudo o que tocam é consumido pela esterilidade de sua própria fome.
Isso significa que o Irmão Negro não tem poder real sobre a magia ou o mundo espiritual – sua força é ilusória, pois ele só pode consumir, mas nunca criar. Esse é um ponto crucial para desconstruir a acusação de que a feitiçaria ou a Quimbanda seriam manifestações de Irmãos Negros. Pelo contrário, a magia praticada com verdadeiro propósito – seja ela de Quimbanda, Thelema ou qualquer outro caminho – está alinhada à Vontade e, portanto, não pode ser confundida com a condição de um Irmão Negro.
No Aethyr 3 (ZON), Crowley mostra o contraste entre os Irmãos Negros e os verdadeiros Magistri Templi. O Magister Templi dissolve sua identidade no Mar da Compreensão (Binah) e torna-se um veículo da Luz, enquanto o Irmão Negro recusa essa transformação e se fecha em si mesmo, morrendo lentamente. Crowley enfatiza que: O caminho dos Irmãos Negros é de autodestruição, pois eles tentam manter o que deve ser sacrificado. Assim, tornam-se fantasmas, sombras de si mesmos.
Aqui, fica claro que a feitiçaria, longe de ser um sinal de Irmão Negro, pode ser uma ferramenta para a iluminação, desde que esteja alinhada à Verdadeira Vontade. A diferença crucial está no propósito: se a magia é usada para expansão da consciência e alinhamento com o Cosmos, ela não tem relação com os Irmãos Negros. O perigo surge quando a magia é utilizada como um meio de reforçar um Ego isolado e separado da Vontade Divina.
Diante dessas definições, podemos desmontar completamente a acusação de que ser feiticeiro ou praticante de Quimbanda implica ser um Irmão Negro. Como vimos:
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Os Irmãos Negros não são definidos pela prática da magia, mas pela recusa em transcender o Ego e se abrir para a Verdadeira Vontade.
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A feitiçaria e a magia podem ser usadas para alinhamento com a Verdadeira Vontade, o que é o oposto do isolamento espiritual dos Irmãos Negros.
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Os Irmãos Negros são espiritualmente estéreis – enquanto a Quimbanda, como prática mágica tradicional, está viva e conectada à corrente de seus ancestrais e forças cósmicas.
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A característica essencial do Irmão Negro é a estagnação, e não a busca ativa pelo poder espiritual, que é o fundamento da feitiçaria.
Crowley rejeita explicitamente a noção de que a magia ou a busca pelo poder espiritual são indícios de um Irmão Negro. Em vez disso, ele enfatiza que a verdadeira feitiçaria, quando alinhada com a Vontade, é uma ferramenta de Deificação.
Dessa forma, se alguém acusa um praticante de Quimbanda ou qualquer outro caminho mágico de ser um Irmão Negro simplesmente por sua prática, está cometendo um erro conceitual grave e uma leitura equivocada dos ensinamentos de Crowley. O verdadeiro Irmão Negro não é aquele que pratica magia – mas sim aquele que se recusa a seguir sua Verdadeira Vontade e, por medo, se fecha dentro de sua própria ilusão, definhando no Abismo.
Em The Vision & the Voice Crowley diz que aos Magistri Templi se faz necessário compreender a natureza das flores em seu jardim (Aethyr 13), do contrário, como ele poderá cuidar de cada uma delas? Assim como a luz se propaga em distintos espectros, podemos escolher caminhos distintos para iluminar a mente daqueles que buscam iluminação. Agora teço, portanto, uma equivalência, data vênia as devidas proporções e diferenças para não exceder em anacronismos, entre os Irmãos Negros do sistema da A∴A∴ e o logikoi no Corpus Hermeticum.
Os Irmãos Negros, segundo Crowley, são aqueles que falham ao atravessar o Abismo e se tornam estéreis espiritualmente. Eles constroem um muro ao redor de si mesmos, recusando-se a se dissolver na corrente universal da Verdadeira Vontade, tentando preservar um Ego ilusório. Como descrito no Liber 418, particularmente nos Aethyrs 13 (ZIM) e 12 (LOE), o Irmão Negro se define pela rejeição da iluminação e pela tentativa de preservar um Eu ilusório e separado, tornando-se um fantasma espiritual, incapaz de irradiar a Verdadeira Luz.
No Corpus Hermeticum, encontramos um paralelo interessante no conceito dos Logikoi, particularmente no Livro IV, onde há uma distinção entre aqueles que são meramente racionais (logikoi) e aqueles que são pneumáticos ou noéticos, ou seja, despertos espiritualmente, em conexão com o nous. Os Logikoi são descritos como indivíduos que confiam apenas na razão discursiva e no intelecto, sem jamais atingir a iluminação espiritual ou a gnōsis verdadeira. Eles acreditam que a razão é o suficiente, mas sua visão da realidade é parcial e limitada.
O Hermetismo ensina que o verdadeiro conhecimento (gnōsis) não pode ser atingido apenas pelo intelecto seco e mecânico, mas pela experiência direta da Luz. Os Logikoi são aqueles que rejeitam essa experiência mística, prendendo-se à ilusão de um Eu individual separado e racionalista. Isso é precisamente o que ocorre com os Irmãos Negros: eles não cruzam o Abismo porque se recusam a dissolver seu Ego na Verdadeira Vontade.
Tanto os Irmãos Negros quanto os Logikoi não geram luz própria, apenas refletem e distorcem. No Liber 418, Crowley enfatiza que um Irmão Negro não gera luz, pois não pode absorver a Verdadeira Vontade, tornando-se estéril e autocontido. De maneira similar, no Corpus Hermeticum, os Logikoi são aqueles que rejeitam Poimandres e são, portanto, desacompanhados dele, que é a plenitude da Divindade, e se contentam com um conhecimento superficial e racionalista, sem se abrir para a verdadeira experiência da Unidade.
Essa ideia é bem expressa no Livro XIII, onde Hermes diz: Aqueles que confiam na razão apenas estão perdidos, pois não podem sentir a presença do divino. Eles pensam que sabem, mas seu conhecimento é uma ilusão. Essa passagem poderia ser lida como uma descrição do que acontece com os Irmãos Negros, que vivem na ilusão de controle, mas na verdade estão em constante degeneração espiritual.
Outro ponto de contato entre as doutrinas é a questão do esquecimento místico. No Hermetismo, o verdadeiro Iniciado deve passar por uma morte espiritual, na qual o antigo Eu é dissolvido, permitindo que o espírito seja renascido na Luz, para falar nos termos em que um thelemita compreenderia. Este conceito se assemelha ao processo da travessia do Abismo em Thelema, no qual o Adepto deve abandonar todo vestígio do Ego e aceitar a total entrega à Vontade Cósmica.
Os Logikoi, assim como os Irmãos Negros, não aceitam essa dissolução, pois têm medo de perder suas identidades. No Aethyr 12 (LOE), Crowley descreve essa recusa da seguinte forma: Os Irmãos Negros tentam resistir ao esquecimento, pois eles temem que, ao abandonarem o Eu, desaparecerão. Eles constroem fortalezas de trevas, aprisionando-se nelas, mas não percebem que sua recusa os condena à esterilidade eterna.
Isso se conecta com a ideia hermética de que aqueles que se apegam ao mundo material e às ilusões da individualidade não podem ascender ao Reino da Luz. Em ambas as tradições, o verdadeiro adepto é aquele que aceita a dissolução de sua identidade ilusória para renascer na Luz. Os Irmãos Negros e os Logikoi representam aqueles que falham nesse processo, tornando-se prisioneiros de suas próprias limitações. Eles acumulam conhecimento intelectual sem transformação interna, tornando-se vazios e incapazes de evolução.
Portanto, podemos concluir que os Logikoi do Corpus Hermeticum e os Irmãos Negros em Thelema são manifestações do mesmo princípio espiritual: a rejeição da Iniciação Verdadeira e a recusa de se tornar um com a Luz. Enquanto os verdadeiros adeptos buscam a gnōsis, a Verdadeira Vontade e a fusão com o divino, os Irmãos Negros e os Logikoi se aprisionam em suas ilusões de controle e separação.
Que a Luz do Aeon brilhe em ti e que tuas reflexões sejam guiadas pela Verdadeira Vontade.
In nomine Babalon et Therion, in Lux et Amor,
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fr. AHA-ON, 777 ∵